segunda-feira, 30 de julho de 2012

DIVINO PELICANO


"Divo¹ Pelicano, Jesus Salvador, lava-me em teu sangue, grande pecador. Dele uma só gota pode bem salvar, mais que o mundo inteiro, de pecar".
Como se vê, um hino da Liturgia eucarística invoca Jesus como "o Divino Pelicano". Por quê?
O pelicano é uma ave aquática que tem sobre o peito uma grande bolsa na qual guarda o alimento (peixes) para os seus filhotes. Dá-lhes de comer com muito carinho e paterno amor; todavia sente que isto lhe vai tirando as forças e o encaminha para a morte - o que faz que sofra grandemente. Receando que a vida se protraia em tais condições, resolve dar a si mesmo o golpe mortal: ergue-se, abre as asas e com seu bico pontiagudo fere mortalmente o coração.
Assim apresentado, o pelicano é imagem de Cristo . - Como?
Toda imagem é ilustrativa e, ao mesmo tempo, deficiente. A do pelicano significa, para o cristão, o amor de um pai que se sacrifica dando alimento a seus filhos (alimento que equivale à sua carne e ao seu sangue) e morre em conseqüência disto. Aí está esboçada a imagem de Cristo: Ele alimenta seus discípulos com sua carne e seu sangue, e morre para que tenham a vida, - e a tenham em abundância (cf. Jo 10, 10). Na quinta-feira santa Ele entregou o seu corpo e o seu sangue como viático aos discípulos, e na sexta-feira seguinte entregou voluntariamente à morte para consumar a sua obra salvífica: "Dou a vida livremente. Tenho o poder de entregá-la e de retomá-la livremente" (Jo 10,18).
É esta a temática do tempo da Páscoa: o fiel contempla o Divino Pelicano que se entrega até a morte para que seus discípulos tenham vida... Pergunta-se, porém, por que a morte era condição ou penhor da vida? - Em resposta diremos que a morte de Cristo era necessária para resgatar a morte do primeiro Adão; este foi até a morte por desamor; Jesus quis ir até a morte por amor, assumindo todas as modalidades da morte para poder dizer a cada criatura sofredora: "Já passei por aí, já santifiquei teu caminho". É muito eloqüente a imagem do pelicano como a descreve o poeta Alfred Mussett:
"No seu amor sublime embala sua dor sobre o festim de morte, hesita, cambaleia, ébrio de gozo puro, de ternura de horror. Às vezes a meio de alto sacrifício, cansado de morrer em tão longo suplício...".
A arte poética é bela e deleitosa. Melhor ainda é tirar-lhe as conclusões concretas: o Divino Pelicano, que deu a vida, pede que os seus discípulos dêem com generosidade tudo o que puderem para a glória de Deus e a salvação dos irmãos. Assim se evidenciará que o Divino Pelicano não está morto, mas vive naqueles que Ele alimenta com o seu Corpo e o seu Sangue.

Interceda a Mãe SSma., por todos nós!

D. Estevão Bettencourt, osb
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¹ Divo é a abreviatura poética de Divino (Nota do Redator).!